Uma das razões que me levou a gostar de BD, e ter ficado fascinado com o Mundo de Aventuras, talvez tenha sido o facto de ter gostado muito da história publicada na primeira revista que comprei, o número 169. Tratava-se de uma aventura de Tiger Joe: Na pista do marfim.
Tiger Joe é um guia de safaris que vive as suas aventuras na selva africana.
A série foi criada em 1950 para o jornal belga Libre Belgique por Vítor Hubinon nos desenhos, com a colaboração de Eddy Paape, e Jean Michel Charlier no argumento.
Estes dois autores, Hubinon e Charlier, elaboraram os três primeiros episódios da série:
Le cimetière des éléphants (este título apenas surge em publicações posteriores, pois na primeira aparição a história chama-se apenas Tiger Joe), O cemitério dos elefantes em português;
La piste de l’ivoire, A pista do marfim;
Les hommes léopards, Os Homens Leopardo.
A série foi interrompida, sendo retomada em 1958 por Greg, que tomou conta dos argumentos, e Gerald Forton, que desenhou os novos episódios, em La Libre Junior.
Safari vers l’interdit, em 1958, que em português ficou Safari do desconhecido;
Menace sur le Gopal, em 1958/59, Ameaça em Gopal ;
Le tigre aux dents de sabre em 1959 ;
Les pirates du Bengale , em 1959/60 ;
Les requins du DJACCAO, em 1960 ;
La loi de cobra, em 1960;
Le dragon de feu, em 1961.
A mudança de autores transformou também as características da série. De episódios de enredos longos e com alguma complexidade, com 45/46 páginas, passou-se para pequenos episódios de 22 páginas que tiraram brilho à personagem.
Para mim Tiger Joe só há um: o de Vitor Hubinon.
Os três primeiros episódios foram publicados novamente em 1964 e 1965 na revista francesa Pilote, sendo o primeiro episódio designado por La piste des éléphants, o segundo La piste de l'ivoire e o terceiro Le mystère des hommes–léopards.
No final da década de 80, uma nova publicação dos três primeiros álbuns, na Bèlgica, pela editora Lefrancq, trocou os nomes dos dois primeiros livros. O primeiro passou a ser La piste d’ivoire, e o segundo Le cemitiere d’elefants, o que também não deixa de ser coerente com o enredo desses dois episódios, que se podem considerar apenas um, servindo qualquer um dos títulos para cada uma das partes.
A série criada por Hubinon e Charlier tinha um conjunto de 4 personagens com características
diferentes:Tiger Joe, o guia caçador e herói principal.
“Gin-duplo”, ou apenas Gin, o melhor amigo de Joe, que como o próprio nome indica, é um apreciador da referida bebida. Seria hoje considerada uma personagem “politicamente incorrecta” num jornal para adolescentes e jovens, pois nas primeiras vinhetas surge com uma garrafa na mão a beber. Essa sua característica, no entanto, rapidamente desaparece da série.
N’Mango, o elemento indígena do grupo que chefia os carregadores negros, e que se distingue por vestir de forma europeia.
Finalmente o senhor Mouton, ex-fiscal de impostos, ganhador da lotaria, que resolve ir caçar para África, não fazendo qualquer ideia da forma como deve agir, vestir-se e actuar na selva, o que vai proporcionando momentos de bom humor durante as explorações.
São estes elementos que irão viver as três primeiras aventuras.
Até à página 25 a numeração era feita em tiras duplas associando ao número da página as letras A e B. A partir da página 26 cada tira tem um número associado ao da pagina, com 4 tiras por página.
Na primeira aventura, O cemitério dos elefantes, publicada nos Mundo de Aventuras 152 e 153 da V série, em 26/8/76 e 2/9/76, os quatro elementos, chefiados por Tiger Joe, vão ajudar Sheila Keeler a procurar um misterioso cemitério de elefantes, tema recorrente em algumas outras aventuras africanas. Neste primeiro episódio, na viagem até Portugal “perderam-se” duas tiras da história. As tiras 41.3 e a 41.4.
Ficou a publicação incompleta, e quem quiser ver a totalidade das tiras terá que recorrer à versão em língua francesa.
A aventura encerra na tira 45.4.
Nos números 169 e 170 da revista Mundo de Aventuras, publicados respectivamente em 23 e 30 de Dezembro de 1976, é publicada a história “Na pista do marfim”, com o grupo a continuar na procura iniciada no episódio anterior. A aventura termina ao fim de mais 45 páginas com o achamento do cemitério.
Passou-se cerca de meio ano, e, em 1/9/77 e 8/9/77, nos números 205 e 206, é publicado o terceiro episódio: Os Homens Leopardo, em mais 46 páginas de desenhos.
O quarteto já referido parte para caçar troféus para Mouton e encontra-se envolvido no meio de um revolta de indígenas, fomentada por um grupo de bandidos brancos.
As histórias desenhadas por Hubinon terminam aqui. A próxima aventura de Tiger Joe surge em 2 de Novembro de 1978, no número 266, ainda no Mundo de Aventuras, e já pertence à dupla Greg e Forton. Do quarteto inicial de personagens apenas restam Gin e Tiger Joe.
Mais uma história é ainda publicada em Portugal, desta vez na revista Selecções no número 215, publicado em Julho de 1979.A aventura chamava-se: Ameaça em Gopal.
É perfeitamente notório algum aspecto de paternalismo e de racismo em relação aos negros, que se manifesta na forma de falar, de vestir, nas expressões e nos comportamentos dos indígenas,
Logo na primeira aventura, na pagina 4.A, surgem os indígenas com lanças, como se fossem para a guerra, e com um sorriso caricatural, mostrando uma expressão de imbecilidade.
Exceptuando N’Mango, quase todos os negros são supersticiosos, cobardes e traindo com facilidade a confiança dos brancos.
Menosprezemos esses pormenores, contextualizemo-los na época, e estaremos perante uma série de aventuras muito interessante, que vale sempre a pena recordar.
Fontes consultadas:
Mundo de Aventuras, V série, nºs 152,153,169,170, 205 e 206
Selecções, nº 215
Le Mystére des hommes Leopards, Ed Lefrancq, 1990
http://lambiek.net/artists/f/forton_gerald.htm
http://lambiek.net/artists/h/hubinon.htm
http://fr.wikipedia.org/wiki/Tiger_Joe
http://www.bdparadisio.com/scripts/detail.cfm?Id=375
http://bdoubliees.com/journalpilote/series5/tigerjoe.htm
http://www.jmcharlier.com/tiger_joe.php
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