segunda-feira, 9 de junho de 2008

Séries de que eu gosto (5) - X-9 (2)

A evolução da personagem

Quando apareceu, X-9 era um agente secreto que não se percebia para quem trabalhava e de quem não se conhecia o nome. Apenas se sabia que um grupo de bandidos lhe matara a esposa e o filho. Seria apenas na época dos desenhos de Charles Flanders, no dia 11 de Abril de 1938, que finalmente se desvendou quem era X-9. Foi identificado como agente do FBI.
Os primeiros episódios têm contradições no argumento, com X-9 a actuar por vezes como se fosse uma gente federal e outras como um detective privado. Essas confusões dever-se-ão ao facto de o texto de Dashiell Hammett ter sido reescrito.
Hammet pretendia um detective particular, na senda das suas criações na literatura policial, enquanto que o King Features Syndicate preferiria um agente da autoridade.
O X-9 desenhado por Alex Raymond é um ser solitário que não liga aos meios para atingir os fins, actuando naquilo que se poderiam considerar as margens da legalidade. Os seus casos são de combate a gangsters que actuam isolados ou em grupo.
Os Estados Unidos atravessavam um momento de combate ao crime organizado e a série representava essa vivência.

A década de 30 entrava na recta final, aproximava-se a segunda guerra mundial, e a temática das histórias foi mudando, aproximando-se mais de casos de espionagem, aparecendo como maus os espiões das potências estrangeiras, como sucedeu na primeira aventura desenhada por Austin Briggs, onde é evidente que se pretende apresentar um alemão como o “mau da história”. Estava-se na época da ascensão do regime nazi que viria a desaguar na 2ª guerra mundial.
X- 9 é uma das séries que mais reflecte as orientações políticas do governo americano.
Se já antes da guerra isso se notava, tornou-se mais evidente após o conflito mundial, com o surgimento da guerra fria. É Mel Graff quem, além de colocar X-9 a combater os gangsters locais, o vai situar em casos de espionagem. Só que agora os “maus” são os soviéticos, de forma mais ou menos explícita.

Mell Graff marcou série durante os 20 anos que a desenhou.
Os desenhos eram organizados em tiras de três vinhetas e passou a haver um grande cuidado com os cenários. A acção desenrolava-se sobre planos bem desenhados e não sobre um fundo amorfo e indistinguível.

Tira desenhada por Mel Graff

Outra característica dos desenhos de Graff situava-se ao nível da fisionomia dos bandidos. Graff deslocava-se aos locais que os gansgsters frequentavam de forma a poder recolher os seus traços fisionómicos. Alguns, quando estavam presos, colavam nas paredes das celas as vinhetas em que surgiam retratados.
Graff foi mesmo autorizado a passear pelas prisões para melhor se documentar sobre as fisionomias dos detidos.
Foi também Graff que chamou Phil Corrigan a X-9 e o casou com a escritora Wilda Dorray, que passou a ser personagem actuante em algumas histórias, situação que continuou com o desenhador seguinte

Durante a época de Bob Lewis como desenhador a política americana mudou de rumo, com a intervenção no Vietname, e como não podia deixar de ser X-9 vai combater os comunistas asiáticos.
Aventura na Indochina publicado de 17/9/62 a 1/12/62, Contra o tigre verde publicado de 1/11/65 a 29/1/66 e Missão no Vietnam publicado de 31/1/66 a 2/4/66, são exemplos dessas passagens pelo extremo Oriente. Também o médio oriente vai ver actuar X-9 em O principe Amed, publicado de 4/4/66 a 25/6/66.
Os desenhos de Bob Lewis abandonaram a rudeza das personagens masculinas de Mel Graff, e adquiriram uma leveza e plasticidade que mais nenhum dos desenhadores da série conseguiu transmitir. A eliminação do traço limitador das vinhetas também contribuiu para isso, com os olhos a deslizarem sobre a tira sem cortes, parecendo por vezes que se está assistir a uma sequência cinematográfica. Em cada tira, duas vinhetas não tinham o limite definido por traço, enquanto que a outra o mantinha, embora de forma bastante suave.
As tiras de Lewis têm duas ou três vinhetas, e só muito raramente apenas uma.

Tira desenhada por Bob Lewis

Uma das primeiras medidas da dupla Al Williamson/Archie Goodwin,(ou dos patrões do King Features Syndicate), foi modificar o nome da série para Agente Secreto Phil Corrigan, abandonando a sigla X-9. Este facto deu-se em 1 de Maio de 1967.
No que se refere aos desenhos, Williamson começou por reproduzir os traços fisionómicos de Lewis, mas ainda durante a primeira aventura, o rosto mudou, aproximando-se da personagem criada por Alex Raymond. Mais tarde atribuiu-lhe os seus próprios traços fisionómicos.

X-9 de Williamson, mantendo os traços fisionómicos criados por Lewis


X-9 de Williamson, recriando os traços originais da autoria de Alex Raymond

X-9 na versão final de Williamson

Os rostos suaves e arredondados de Lewis foram substituídos por rostos agressivos, em alguns casos brutais, como que num retorno à época de Mel Graff, no que se refere às personagens secundárias e à de Alex Raymond no que se refere a X-9.
Williamson eliminou quase sempre o traço limitador das vinhetas, aumentando a sensação cinematográfica.

Tiras desenhadas por Williamson onde se "vê" o movimento de rastejar da personagem

Também executou com mais frequência que Lewis vinhetas só com uma tira, situação não muito comum neste tipo de séries norte-americanas, utilizando também planos sobrepostos, o que não é um modelo recorrente nas tiras dos jornais americanos, embora Lewis e até Austin Briggs já o tivessem também executado.
Em termos de conteúdo das histórias Corrigan abandonou a luta anti-comunista. Os seus casos passaram a ser muitas vezes contra organizações terroristas internacionais que traficavam armas, drogas e pessoas.
A partir de determinada altura a série passou a abordar temas do fantástico e da ficção científica. Viagens no tempo e no espaço, contacto com extraterrestres e civilizações perdidas. Grande evolução para quem começou a combater os gansgsters americanos da década de trinta do século vinte.
Outra das características desta fase foi o surgimento de inimigos que se perpetuaram ao longo de vários episódios, como a Tríade e o Dr. Seven.
Também é de referir Karla Kopak, uma personagem que surge numa referência à série Brick Bradford. Karla é filha do Dr. Kopak, uma das personagens da série. Karla participará também em vários episódios.

X-9 em luta contra extra-terrestres

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